Criavam-se dois mundos à minha frente. Via as pessoas a correrem, os namorados a darem as mãos, os filhos a saltarem para o colo dos pais, os estudantes a rirem, os senhores de gravata a falar ao telemóvel e todo um cenário que me fazia sentir, com o passar do tempo, cada vez mais sozinha e abandonada. Era o meu e o vosso. Sentia-a todos os passos que dava como um martírio. Era como se tivesse presa à perna uma grande corrente que não me queria deixar avançar. Surgiam novas pessoas mas, eu continuava no mesmo sítio. No meu, estava sozinha. Ninguém via o mesmo que eu. No vosso, continuavam a polir-se os exteriores e, os interiores degradavam-se até não restar nada. Tudo destruído. Havia quem tentasse descortinar-me. Eu não deixava. Sabia bem o que me corroía e não queria ser transparente. Ninguém perceberia o peso que carrego comigo. Tentei remodelar o teu interior. Não quiseste, não deixaste. Criaste mentiras atrás de mentiras. Contaste-me segredos. Tentei trazer-te para o me...