Avançar para o conteúdo principal

Morreste-me

"É o teu rosto que encontro. (...) Não te posso esconder, depois de ti, ainda há tud isto, toda esta sombra e o silêncio e a luz fina que agora és. (...)
Onde estiveste esta noite, pai? Procurei-te para lá da memória, nos cantos que só nós conhecemos, e não te vi. Vi apenas, no negro dos cantos antes iluminados, o negro da tua falta, a dor sem fim que só se pode sentir. Procurei-te nos cantos a noite(...)
Ah, pai, pudesse eu cair e descansar tanto tempo como tu. Cego na terra, o peito húmido de sono, na noite. (...)
Descansa, pai, dorme pequenino, que levo o teu nome e as tuas certezas e os teus sonhos no espaço dos meus. Descansa, não vou deixar que te aconteça mal. Não se afilija, pai. Sou forte nesta terra nos meus pés. Sou capaz e vou trabalhar e vou trazer de novo aqui o mundo que foi nosso. Vou mesmo, pai. O mundo solar. Reconhecê-lo-ei, porque não o esqueci. E também o tempo será de novo, e também a vida. Sem ti e sempre contigo. (...) Pai, não se preocupe comigo. Eu oriento-me. E vou. Anoitece a estrada no que sobra da manhã. Chove sol luz onde está o que os olhos vêem.(...) Onde está, pai, que me deixaste só a gritar onde estás? Na angústia, preciso de te ouvir, preciso que me estendas a mão. E nunca mais nunca mais. Pai. Dorme, pequenino, que foste tanto. E espeta-se-me no peito nunca mais te poder ouvir ver tocar. Pai, onde estiveres, doerme agora. Menino. Eras um pouco muito de mim. Descansa, pai. Ficou o teu sorriso no que não esqueço, ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei."

Comentários

Mensagens populares deste blogue